Donald Trump e o futuro do mundo

Os Estados Unidos estão prestes a ter um novo presidente. Apesar de a eleição ainda precisar passar por uma segunda fase no colégio eleitoral, os norte-americanos sinalizam que Donald Trump deve ser empossado no dia 20 de janeiro de 2017 como o 45º presidente da democracia mais expressiva do planeta. Pela primeira vez, uma pessoa que nunca exerceu cargo público nem prestou o serviço militar está prestes ocupar o cargo. A pujança econômica e militar dos EUA fará do bilionário de declarações polêmicas o homem mais poderoso do mundo.

Trump é um magnata que transformou a fortuna herdada do pai em um poderoso império pessoal. Seu nome é uma marca grafada na fachada de centros financeiros. Um apresentador de televisão muito popular, Trump é um comunicador que sabe exprimir, com seu jeito franco de falar, os sentimentos normalmente não declarados de uma população majoritariamente conservadora. Sua vitória pelo partido republicano o faz encarnar um papel de protagonista da história do mundo, e, para surpresa de muitos, também uma figura com importante papel no cumprimento das profecias bíblicas.

O que Donald Trump tem a ver com as profecias? Seu nome não está codificado em nenhuma das páginas milenares da Bíblia, mas uma interpretação bíblica que vem se confirmando revela que a nação que ele deve governar participará no cumprimento de uma das últimas profecias da Bíblia. Essa profecia está em Apocalipse 13.

Neste capítulo há a descrição de duas potências que são inimigas dos adoradores fiéis de Deus. Nos recuados tempos quando o Império Romano governava o mundo, Deus revelou ao apóstolo João, autor do Apocalipse, o surgimento de dois poderes de influência mundial. O primeiro é representado por uma “besta que emerge do mar” (Ap 13:1). Os reformadores protestantes identificaram a “besta do mar”. Para Martinho Lutero, João Calvino e os grandes reformadores protestantes do século 16, todas as descrições proféticas de Apocalipse 13:1-10 aplicam-se perfeitamente ao Império Romano em sua fase papal, ou seja, à hierarquia religiosa mais poderosa do planeta. Seu histórico de intolerância para com as ideias discordantes, evidente em episódios como o da Inquisição, confirma que a Igreja Romana está representada na Bíblia como a primeira besta de Apocalipse 13.

A segunda potência descrita no mesmo capítulo está figurada como “outra besta que emerge da terra” (Ap 13:11). Segundo o relato bíblico, essa “besta” “possuía dois chifres”, parecia “um cordeiro, mas falava como um dragão”. Ela “exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença”. Segundo Vanderlei Dorneles, em seu livro O Último Império, o teólogo puritano Thomas Goodwin sugeriu em 1680 uma importante pista que levou à posterior identificação do símbolo profético. Ele concluiu que a segunda besta de Apocalipse 13 era a “imagem protestante do papado nas igrejas reformadas”.

Mais de um século depois, em 1798 e 1799, Jeremy Belknap e John Bacon, ambos da igreja congregacional, relacionaram os “chifres” da besta apocalíptica aos valores formativos dos Estados Unidos. Bacon defendeu que os dois chifres representavam a “liberdade civil e religiosa na América”. Os Estados Unidos eram independentes havia apenas 23 anos, e a Constituição americana vigorava há uma década.

Mas foi apenas em 1850 que essa interpretação se consolidou. George W. Holt, Hiram S. Case, Tiago White e Hiram Edson analisaram todos os elementos da profecia e concluíram que a segunda besta do Apocalipse é “a república protestante dos Estados Unidos”. No ano seguinte, um jovem de 22 anos chamado John Nevins Andrews destrinchou todas as evidências que apontam ser a nação americana a potência representada em Apocalipse 13:11-18. Com base nisso, ele previu que os Estados Unidos se tornariam um império mundial. Vale lembrar que, quando Andrews escreveu isso, a bandeira americana tinha apenas 31 das 50 estrelas que tem atualmente. Os 31 estados representados na flâmula compunham uma nação rural (apenas 15% da população vivia nas cidades). Ainda dependente da mão de obra escrava, o país com expressão econômica tímida no cenário internacional dava os primeiros passos de uma industrialização tardia em relação à Europa ocidental e tentava se erguer dos resultados da depressão econômica de 1837.

Hoje, é indiscutível a liderança norte-americana no panorama internacional. Isso confirma a interpretação da profecia, que também revela que a “besta da terra” (EUA) levaria as pessoas a se sujeitarem à autoridade da “besta do mar” (Vaticano). Segundo a profecia, a nação americana “faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta” e “seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta”.

A autora cristã Ellen G. White escreveu em 1888 que, “a fim de formarem os Estados Unidos uma imagem da besta, o poder religioso deve a tal ponto dirigir o governo civil que a autoridade do Estado também seja empregada pela Igreja para realizar os próprios fins” (O Grande Conflito, p. 443).

Em suma, “a imagem da besta” é uma nova versão do que vigorou na Idade Média: o papa mandava no rei, e o rei dava poder ao papa e executava a vontade deste.

Em seu livro Liberdade Americana e Poderio Católico, escrito em 1948, o jurista estadunidense Paul Blanshard previu, após minuciosa análise dos documentos históricos do catolicismo, que este pretendia conquistar poder político nos Estados Unidos. Blanshard alertou que a Igreja Católica, caso não mudasse sua postura, e caso os Estados Unidos não se precavessem contra ela, avançaria rumo ao controle do país e à supressão da liberdade religiosa.

Blanshard escreveu bem antes de 1984, quando os Estados Unidos estabeleceram relações diplomáticas com a Santa Sé. A aproximação entre a maior potência econômica e militar do planeta e a mais pujante hierarquia religiosa do globo deve ser encarada como a concretização de um perigoso cenário profético e apocalíptico. Segundo Ellen G. White, “quando as principais igrejas dos Estados Unidos, ligando-se em pontos de doutrinas que lhes são comuns, influenciarem o Estado para que imponha seus decretos e lhes apoie as instituições, a América do Norte protestante terá então formado uma imagem da hierarquia romana, e a aplicação de penas civis aos dissidentes será o resultado inevitável” (ibid., p. 445).

É provável que a vitória de Donald Trump seja um passo importante na aproximação profética entre o governo dos Estados Unidos e a liderança da Igreja Católica. Ele, que é presbiteriano, assumiu posições conservadoras e nacionalistas. Isso pode levá-lo a promover no governo propostas condizentes com os valores religiosos dos americanos. Provavelmente será um professo defensor da família e dos “bons costumes”, bandeira importante do Partido Republicano, pelo qual se elege presidente. Os bispos católicos e o papa têm especial interesse que as posições morais defendidas pela sua igreja recebam apoio governamental.

Se realmente usar a máquina do estado para promover interesses conservadores, Trump deve se tornar bem aceito entre os católicos do país, que representam pouco mais de um quarto da população, e entre os protestantes, que correspondem a quase metade do país. Ele também tem o apoio manifesto de outros grupos religiosos. Entre os judeus americanos, Trump foi o candidato favorito, principalmente devido às suas posições pró-Israel. Pensar que a convergência entre as grandes religiões mundiais terá o apoio político dos Estados Unidos não é impensável se ele estiver no comando da nação.

Três livros publicados pela Casa Publicadora Brasileira descrevem os pormenores das profecias referentes ao papel que os Estados Unidos desempenham no fim dos tempos. O livro Apocalipse 13: Isso Poderia Realmente Acontecer? apresenta a projeção do cenário social e religioso dos Estados Unidos, segundo as profecias bíblicas. Já a obra O Último Império: A Nova Ordem Mundial e a Contrafação do Reino de Deus revela como as pretensões imperialistas dos Estados Unidos podem levar a nação a impor leis religiosas em outros países. Além desses, o clássico O Grande Conflito reconta de uma perspectiva profética a história mundial e dá impressionantes previsões a respeito do futuro.

O cenário de união entre as potências religiosas e políticas do mundo é um dos últimos sinais que antecederão a segunda vinda de Cristo e o fim do mundo. Quando Cristo vier, as autoridades políticas e religiosas perderão seus poderes, e Deus salvará o seu povo e será o único governante do Universo, e “Ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11:15).

FERNANDO DIAS é pastor e editor da Casa Publicadora Brasileira
Fonte: http://www.revistaadventista.com.br/blog/2016/11/09/donald-trump-e-o-futuro-do-mundo/

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